Mulheres e crianças primeiro são realmente regras marítmas?

Mas existem leis que governam quem sai primeiro de um navio naufragando? “Mulheres e crianças primeiro” como dizem no Titanic? Ainda é um pouco cedo para saber exatamente o que aconteceu nas horas finais do Costa Concordia. O capitão já negou que ele tenha saído do navio antes do resto das pessoas.
Edwin Gurd, um policial aposentado, deu entrevista ao Times. “Nós queríamos que as mulheres e crianças fossem antes, e os homens com família e bebês. Mas muitos estavam tentando salvar a si mesmos”.
Mas a tradição de mulheres e crianças primeiro faz parte realmente das leis marítimas? Rob Ashdown, diretor de operações do Conselho de Cruzeiros Europeu, explica que após o embarque dos passageiros, eles são indicados para um bote de acordo com sua cabine.
Se ocorrer um acidente, como no caso do Concordia, que bateu em rochas, fica a mando do capitão decidir a evacuação. Para dar início ao processo, um alarme soa ordenando as pessoas a se dirigirem a um centro de reunião.
Desse ponto em diante, o navio tem 30 minutos para encher os botes, lançar e partir, de acordo com as regulamentações da Organização Marítima Internacional. E Ashdown comenta que não existe obrigação legal de mulheres e crianças irem primeiro.
A evacuação do navio HMS Birkenhead, em 1852, é creditada como a primeira ocasião em que mulheres e crianças pegaram os botes primeiro.
O navio estava carregando quase 500 soldados e 26 mulheres e crianças. Após o comando do oficial para que os soldados esperassem, todas as mulheres e crianças sobreviveram, mas a maioria dos homens morreu. A famosa frase de evacuação parece ter surgido depois.
Mas Ashdown comenta que existe um grupo que pode receber tratamento preferencial hoje: pessoas com necessidades móveis especiais.
“A ideia de mulheres e crianças primeiro é apenas uma convenção que existe por razões históricas”, sugere ele. “Pode ser apropriado em certas circunstâncias e culturas, mas não em todos os lugares”.
Um argumento que pode ser usado é que os homens geralmente são melhores nadadores do que as mulheres e crianças, e por isso teriam mais chance de sobreviver na água. Mas hoje a ideia é menos sobre chances de sobrevivência e mais sobre tratar as pessoas de maneira justa.
Ed Galea, especialista em evacuação, da Universidade de Greenwich, afirma que um comportamento ordenado entre os passageiros é crucial para uma evacuação de sucesso. E tendo estudado situações grandes de desastres, incluindo sobreviventes do World Trade Center, ele comenta que as pessoas não respondem ao processo de evacuação da maneira que imaginam.
“Não é como Hollywood, não é cada um por si. As pessoas agem até que de maneira altruísta. Você vai alguns chorando e gritando, mas não significa que estão em pânico”.
Geralmente as pessoas vão ajudar os mais vulneráveis a sair de cena antes. Não necessariamente as mulheres, mas provavelmente os machucados, idosos e crianças pequenas, afirma o especialista. Galea comenta que ainda é cedo para saber com detalhes a evacuação do Concordia. Mas para ele, parece que a tripulação fez um trabalho exemplar e a maioria dos passageiros se comportou bem.
Ele argumenta que o problema real a bordo do Concordia foi a demora para que a ordem de “abandonar navio” fosse dada. Minutos importantes foram perdidos após o cruzeiro bater nas pedras, e relatórios sugerem que foi só quando o navio começou a tombar que a evacuação começou.
Uma vez que o barco entorte 20 graus fica difícil o lançamento dos botes salva-vidas. No caso do Concordia, ele inclinou rapidamente. “Eles tiveram tempo”, afirma Galea. “Mas como eu entendo, a evacuação só começou quando o barco inclinou severamente”.
E você, qual sua opinião sobre o caso do Concordia? Como você acha que o sistema de evacuação deveria ser feito? [BBC]
Por Bernardo Stau
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