13/1/2012
Era uma ótima oportunidade para o cientista vivo mais famoso refletir sobre sua carreira fantástica, em frente a uma audiência de amigos e colegas. Mas o discurso do septuagésimo aniversário de Stephen Hawking acabou ficando com uma ausência notável – a presença do físico.
Apesar da necessidade de cancelar sua vinda, na última hora, por culpa da recuperação de uma infecção, a voz do professor ainda assim ecoou no salão de Cambridge, através de uma gravação de seu discurso.
Hawking, que sofre de uma doença motora neuronal, sempre grava seus discursos previamente. Enquanto os presentes ouviam sua fala, fotos da carreira do cientista eram projetadas.
Muitas risadas aconteceram, já que o professor é famoso pelo seu humor seco. Em uma das partes, Hawking descreve como o diagnóstico da doença, aos 21 anos, ajudou a transformá-lo de um aluno talentoso, mas preguiçoso, em um dos acadêmicos de maior destaque no mundo.
Logo após a notícia, os médicos deram poucos anos de vida para ele. Mas hoje, quase 50 anos depois do lançamento do seu mais famoso livro, “Uma Breve História do Tempo”, o número de vendas já passou dos 10 milhões, e ele apareceu até nos Simpsons e Star Trek.
Sobre o impacto do diagnóstico inicial da doença, ele comenta: “No começo fiquei depressivo. Eu parecia ficar pior muito rapidamente. Não tinha sentido, naquele momento, trabalhar em minha formação porque não sabia se ia viver o suficiente para termina-la”.
“Mas então a condição se desenvolveu mais devagar e eu comecei a ter progresso em meu trabalho. Após minhas expectativas terem sido reduzidas a zero, cada novo dia virou um bônus e eu passei a apreciar tudo o que eu tinha”.
“Havia também uma jovem mulher chamada Jane, que eu conheci em uma festa. Ficar noivo aumentou minhas esperanças, e eu notei que se ia casar tinha que arranjar um trabalho e terminar o doutorado. Eu comecei a trabalhar duro e gostar disso”.
O professor admite que estudava apenas uma hora por dia enquanto não era um graduado em Oxford, mas ele comenta que saber de sua condição, junto com seu primeiro noivado, o levou a se formar.
Ele afirma ter notado algo estranho ainda em Oxford, já que não conseguir mais praticar barco a remo decentemente. No primeiro natal após começar sua pós-graduação em Cambridge, uma queda de snowboarding o levou ao médico, onde foi avisado de que não havia nada possível de ser feito para evitar a progressão da doença.
Hawking esperava fazer sua aparição no último dia da conferência de cosmologia de Crambridge, já que estava muito mal nos outros dias do evento, mas os médicos avisaram que ele precisaria de mais tempo para se recuperar da infecção.
O discurso, intitulado “Minha Breve História”, cobriu a vida e o trabalho do cientista, desde seu nascimento em Oxford, durante a Segunda Guerra Mundial, até o nascimento de suas teorias sobre os buracos negros e a formação do universo.
Ele comentou que não conseguia ler até os oito anos e que, apesar de receber o apelido “Einstein” naescola, nunca foi tão melhor do que os outros.
“Quando tinha 12 anos, um dos meus amigos apostou um saco de doces com outro amigo que eu nunca viraria algo. Eu não sei se a aposta foi consolidada, e se foi, de qual maneira ficou decidida”.
O empresário britânico, fundador da Virgin, Sir Richard Branson, afirmou antes do discurso que “Stephen Hawking deveria ganhar o prêmio Nobel muitas vezes, ele descobriu muitas coisas durante sua vida e conseguiu fazer isso mesmo com uma grande invalidez”.
Ele adicionou que espera ajudar o professor a realizar um de seus sonhos, o de ir ao espaço com a espaçonave Virgin Galactic, que está sendo desenvolvida.
Hawking, ao falar sobre sua vida, refletiu que é um “tempo glorioso para se estar vivo”, e afirmou estar feliz de ter feito uma “pequena contribuição” para o entendimento do universo.
“Lembre de olhar para estrelas e não para seus pés. Tente encontrar sentido para o que você vê e imaginar o que faz o universo existir”, afirma o professor.
“Seja curioso. E não importa o quão difícil a vida pareça, sempre há algo em que você pode ter sucesso. O que importa é não desistir”. [Telegraph]
Por Bernardo Staut
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